"Só Queria o Direito dos Meus Filhos": O Desabafo de uma Mãe Após Ser Presa ao Cobrar Pensão
Após tentar cobrar a pensão dos filhos gêmeos do ex-marido, mãe de quatro crianças é agredida, presa e relata noite de desespero na cela da delegacia em Guarantã do Norte.
Guarantã do Norte (MT) – O fim de semana que deveria ser de cuidados e busca por ajuda médica para um dos filhos, terminou com tristeza, humilhação e desespero para a dona de casa Jordana da Silva, de 36 anos, moradora do bairro Santa Marta. Mãe de quatro filhos, ela foi parar na delegacia após tentar cobrar do ex-marido o pagamento da pensão alimentícia dos dois filhos gêmeos que tiveram juntos — valor esse que está atrasado.
Em uma entrevista emocionada concedida à equipe do Cidade News, Jordana relatou em detalhes o episódio que a marcou profundamente. Segundo ela, tudo começou quando seu filho, um dos gêmeos, precisou ser levado ao hospital. "Ele nasceu com um tumor na costela. Precisa de cirurgia e eu não tenho condições. O SUS ainda não conseguiu marcar. Eu que tenho que levar, trazer, cuidar de tudo. Sozinha", desabafa, com os olhos marejados.
Sem alternativas, Jordana procurou o pai da criança em sua residência, na esperança de conseguir ajuda para custear medicamentos e alimentação. Mas o que encontrou foi hostilidade. "Ele não quis conversar comigo. Me agrediu, me derrubou no chão e mandou chamar a polícia. Eu só queria conversar, pedir ajuda...”, relata, visivelmente abalada.
O que era uma tentativa de buscar apoio terminou em prisão. Jordana foi detida por estar alterada emocionalmente durante a discussão. Passou a noite na cela da Delegacia Municipal de Guarantã do Norte, onde, segundo ela, viveu momentos de angústia profunda.
“Me senti num buraco, como se estivesse morta. Eu respirava, mas parecia que não tinha mais ar. Dormi no chão duro, toda machucada. Nem água eu tinha como beber sem pedir ajuda para os outros presos. Foi uma humilhação que eu nunca imaginei passar.”
Ela relata que, apesar da situação extrema, só pensava nos filhos. "Fiquei presa das 10 da noite até as 10 da manhã. Tudo porque fui atrás do que é direito dos meus filhos. Só isso."
"Uma mãe desesperada não é criminosa"
A pensão alimentícia combinada é de R$ 250 por criança, totalizando R$ 500 mensais. Mas o pagamento é esporádico. “Ele paga quando quer. Eu tenho que correr atrás, ameaçar, implorar. É uma humilhação. Eu vivo com mil reais do Bolsa Família e sustento quatro filhos”, diz.
Além dos gêmeos, Jordana tem mais duas filhas e afirma que a renda não cobre nem o básico.
“Só com leite eu gasto 10 reais por dia. Fralda, mucilon, fruta... Não tem como viver com 500 reais. Quem tem filho pequeno sabe.”
Ela também denuncia que o ex-companheiro não cumpre o dever de pai nem em situações críticas, como levar o filho doente ao hospital. “Ele só faz se eu for buscar, se eu implorar. E eu tenho que fazer tudo sozinha.”
Pedido de Justiça
Agora em liberdade, Jordana vai procurar a Defensoria Pública para entrar com um pedido de revisão de pensão e aumento do valor mensal, além de tomar as providências legais pela agressão sofrida. Ela também espera que o sistema de justiça repense a forma como tratou seu caso:
“Eu não sou criminosa. Sou mãe. Só queria ajuda. Só queria que o pai dos meus filhos fizesse a parte dele. Eu não desejo pra ninguém o que passei dentro daquela cela.”
Com hematomas pelo corpo e dores físicas e emocionais, Jordana diz que não vai desistir. "Eu luto pelos meus filhos. Eles não pediram pra nascer. Ele é pai, ele tem responsabilidade."
O que diz a Polícia?
A TV Migrantes procurou a delegada Eliete, responsável pelo caso, mas ela estava em diligência no interior. A Polícia Judiciária Civil informou que irá apurar todos os fatos, inclusive a denúncia de agressão física por parte do ex-marido, e que medidas de proteção podem ser solicitadas pela vítima.
A reportagem continuará acompanhando o caso e trará as atualizações assim que forem divulgadas.